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Como o aeroporto de Santarém entrou no radar do governo e pode criar 170 mil empregos na região

As primeiras notícias surgiram tímidas, no mês passado. Mas, sabemos agora, alguns autarcas da região já conheciam este projeto há três anos. Santarém poderá ser mesmo uma alternativa a Montijo ou Alcochete? O governo diz que sim. Este projeto inteiramente financiado por privados faz já parte de duas das cinco soluções possíveis.

Por Patrícia Fonseca

A construção de um novo aeroporto que sirva a região de Lisboa é um assunto dominante da governação do país há 53 anos. Já foram dadas como certas, e anunciadas com toda a pompa e circunstância, 17 alternativas de localização. O montante gasto em estudos, avaliações e projetos só nas últimas três décadas já ultrapassou os 70 milhões de euros – daria, por exemplo, para construir quatro pontes sobre o Tejo na nossa região, quando essa decisão tem vindo a ser adiada desde os anos 1990 e o governo continua a debater qual será a melhor opção a concretizar até 2030, entre Tramagal (Abrantes) ou Constância (Abre numa nova janela), deixando as suas promessas com a Chamusca por cumprir.

“Agora é que é”, ouve-se uma e outra vez. Em junho deste ano o ministro das Infra-estruturas chegou a anunciar a escolha Montijo + Alcochete, mas António Costa revogou a decisão de Pedro Nuno Santos, invocando a necessidade de um consenso com o PSD (que acabara de eleger um novo líder).

Esse consenso ainda não foi alcançado. Mas no passado dia 23 de setembro os líderes dos dois principais partidos anunciaram uma “convergência”: realizar mais obras no aeroporto Humberto Delgado e criar duas comissões (uma técnica independente e outra de acompanhamento) com um coordenador-geral, que fará uma avaliação ambiental estratégica sobre as localizações em cima da mesa – a “opção Santarém”, desconhecida até há poucas semanas, faz parte de duas das cinco soluções possíveis. Os trabalhos destas comissões vão decorrer durante um ano e a decisão final deverá ser conhecida no final de 2023.

Entretanto, os autarcas da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) e da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT), que agregam os 21 municípios do distrito de Santarém, conheceram a 29 de setembro os detalhes deste projeto de investidores privados, que junta Humberto Barbosa, dono da Barraqueiro e antigo acionista da TAP, a Carlos Brazão, do grupo Magellan 500, ex-quadro da Cisco.

No final da reunião, foi emitida uma breve nota. “Os autarcas, sabendo que ainda não existe nenhuma tomada de posição pelo Governo sobre esta matéria, estão obviamente com grandes expectativas, considerando que esta localização foi uma das escolhidas no âmbito da avaliação ambiental estratégica do futuro aeroporto, segundo a resolução do Conselho de Ministros. Caso se confirme, será um grande investimento para a região e para o nosso país. Um projeto desta envergadura, que servirá o país e a região, alavancará não só um desenvolvimento ímpar e diferenciador, como também potenciará o desenvolvimento do turismo, a oferta de emprego, expansão de negócios e outros mercados.”

Ao mediotejo.net, o presidente da Câmara Municipal de Torres Novas revelou que já tinha conhecimento deste projeto há três anos (Abre numa nova janela), mas os investidores pediram, naturalmente, sigilo.

A localização, em duas freguesias do concelho de Santarém que fazem fronteira com Torres Novas, Alcanena, Golegã e Chamusca, terá sido decidida com base num primeiro – e determinante – critério: ficar a mais de 75 km do aeroporto Humberto Delgado, que é a área de exclusividade da atual concessionária (Vinci/ANA). A zona de São Vicente do Paul e Casável, em Santarém, fica a 80 km. Além disso, é uma zona com pouca densidade populacional e terrenos agrícolas sem áreas de proteção ambiental problemáticas, tendo a estação ferroviária do Entroncamento a poucos minutos e, mesmo ao lado, a Auto Estrada do Norte (A1).

E Tancos, deixou de ser uma opção? A CIMT defende há vários anos junto do governo que um aeroporto em Tancos, aproveitando a infra-estrutura militar existente, seria estruturante para “alavancar a dinâmica económica de toda região e o potencial turístico dos milhões de passageiros que se dirigem a Fátima”.

Para o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, os dois projetos não são incompatíveis (Abre numa nova janela). “Concordo plenamente com este investimento [em Santarém]. O que interessa de facto é existir um aeroporto para a região, que possa privilegiar quer a questão das mercadorias, quer objetivamente a questão de passageiros. E de facto ficando [o aeroporto] a 10/15 minutos de Vila Nova da Barquinha, todos os territórios adjacentes terão uma mais valia, se ele for construído”, disse Fernando Freire ao nosso jornal. O autarca não descarta a possibilidade de ser construído um aeroporto regional em Tancos, sublinhando que este sempre foi um processo “completamente díspar” da questão do novo aeroporto para servir Lisboa.

Santarém poderá ser mesmo uma opção a Montijo ou Alcochete? O governo diz que sim. “Durante o processo em que se estava a trabalhar nesta metodologia surgiram informações sobre uma potencial localização que o Governo entendeu poder ter mérito suficiente para integrar a avaliação ambiental estratégica”, revelou o ministro Pedro Nuno Santos a 23 de setembro, quando questionado sobre o facto de a opção Santarém ter sido incluída nas cinco localizações que vão ser estudadas pela nova comissão técnica independente, aprovada em Conselho de Ministros.

Segundo o ministro Pedro Nuno Santos, as localizações que vão ser estudadas incluem soluções únicas e soluções duais: o aeroporto Humberto Delgado fica como aeroporto principal e Montijo como complementar; Montijo adquire progressivamente o estatuto de aeroporto principal e Humberto Delgado fica complementar; Alcochete substitui integralmente o aeroporto Humberto Delgado; Humberto Delgado mantém-se como principal e Santarém será complementar; ou Santarém substitui integralmente Humberto Delgado.

Com um custo aproximado de mil milhões de euros, a ser financiado inteiramente por privados que prevêem o retorno através das tarifas aeroportuárias, o aeroporto de Santarém ganha cada vez mais defensores. Além de evitar um maior endividamento do país (Montijo e Alcochete contemplam, acrescidamente, uma nova ponte sobre o Tejo com ligação ferroviária) é a única solução que não apresenta, para já, problemas de impactos ambientais.

Santarém poderá ser também uma solução mais rápida para dar apoio ao saturado aeroporto Humberto Delgado. Os promotores anunciaram que, se for necessário, poderá começar como um aeroporto regional, com uma só pista, garantindo já daqui a três anos capacidade para 10 milhões de passageiros. À medida que a construção fosse avançando, evoluiria para nacional e internacional, com três pistas e capacidade para 100 milhões de passageiros por ano.

Os promotores defendem ainda que, além de servir Lisboa, promovendo o desenvolvimento económico na zona Centro (e gerar emprego direto e indireto para cerca de 170 mil pessoas), este aeroporto poderá constituir-se também como um importante centro logístico para a Europa.

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