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'Carpe diem' (ou um desejo para juntar às suas 12 passas)

Quantas vezes adiamos a felicidade? No próximo ano é que vai ser: vou emagrecer, ter aulas de piano, fazer aquela grande viagem... Se por um lado vivemos a uma velocidade cada vez mais alucinante, também vamos marcando passo no que é mais importante.

Deixamos para “depois” (que tantas vezes se transforma em “nunca”) não apenas as resoluções mais importantes para o nosso bem-estar físico e emocional mas também as mais corriqueiras – de um almoço com amigos a uma caminhada na natureza.

Faço desde já um “mea culpa”: esta reflexão é também um olhar ao espelho. Tenho deixado demasiadas vezes para amanhã o que devia ter feito ontem. E porquê? Feitas as contas, no final de mais 365 dias de vida, valeu a pena?

Quando o poeta romano Horácio escreveu sobre a brevidade da vida cunhou para a eternidade a expressão “carpe diem” (aproveita o dia). A frase completa é “carpe diem, quam minimum credula postero” (aproveita o dia de hoje e confia o mínimo possível no amanhã). É um lema de vida que devíamos repetir a cada novo acordar – e um dos desejos que, espero, possa incluir nas suas 12 passas.

Deveríamos valorizar mais o “agora” e enterrar, sempre que possível, o “depois”. Há coisas pelas quais vale a pena esperar, claro. Mas, na maioria das vezes, as nossas prioridades estão desalinhadas com o que verdadeiramente terá importância quando um dia olharmos para trás.

O meu avô paterno tinha uma garrafeira na sala de estar que era uma espécie de santuário privado, onde guardava vinhos e licores muito caros, para serem bebidos em momentos especiais. Nas estantes ao lado guardava as suas centenas de discos de vinil e passava horas a ouvir fado, sentado no sofá – mas nunca o vi beber nada nesses momentos de descontração. Quando morreu – primeiro ele, depois a minha avó – coube-me a mim a tarefa de empacotar tudo o que restava das suas vidas naquele apartamento de Lisboa, onde viveram mais de 60 anos. E as garrafas do meu avô ali estavam, seladas e cobertas de pó, à espera de uma ocasião especial que nunca chegou.

Antes de arrumar o seu velho gira-discos, escolhi um fado de Amália e abri um vinho do Porto de 1978. Retirei três cálices coloridos da cristaleira e sozinha, na casa à qual não mais poderia regressar, brindei à memória dos meus avós, agradecendo-lhes por mais esta lição de vida: somos nós que temos de criar, todos os dias, momentos especiais.

Feliz Ano Novo.

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