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De Abrantes ao Tarrafal, uma memória resgatada por João Pina 75 anos depois

Prisioneiros no Tarrafal

O fotógrafo João Pina encontrou em caixas antigas do seu bisavô aqueles que são os únicos registos conhecidos de prisioneiros políticos portugueses no Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Aquelas fotografias, como viria a descobrir, contavam muito mais do que a história da prisão do seu avô Guilherme da Costa Carvalho, destacado membro do Partido Comunista na clandestinidade – uma história que agora é revelada em livro, para que nunca seja esquecida.

Por Patrícia Fonseca

Os registos policiais da época confirmam a detenção de um indivíduo na posse de uma pasta contendo propaganda comunista, na estação de comboios de Abrantes, em Rossio ao Sul do Tejo, na noite de 20 de outubro de 1948. Guilherme da Costa Carvalho era o seu nome, e foi entregue pela GNR de Abrantes no dia seguinte a elementos da polícia política.

O inspector da PIDE que o interrogou descreveria, anos mais tarde, as circunstâncias da captura em Abrantes deste destacado membro do Partido Comunista na clandestinidade, filho de uma das famílias mais ricas do Porto, e que, em 1960, viria a ser um dos presos políticos que, ao lado de Álvaro Cunhal, protagonizou uma espetacular fuga do Forte de Peniche. (…)

(…) A PIDE não conseguiu arrancar qualquer informação do detido mas, ainda assim, a posse de panfletos contra a ditadura ditou a sua detenção na prisão do Aljube e o posterior julgamento no Tribunal Criminal de Lisboa, onde foi condenado a dois anos e seis meses de prisão, com suspensão dos direitos políticos por quinze anos. A sentença ganharia um peso acrescido quando foi conhecida a prisão onde teria de ser cumprida: no Campo de Concentração do Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde.

O Tarrafal, desterro de centenas de presos políticos, quer de Portugal, quer das ex-colónias portuguesas, ficou conhecido como “campo da morte lenta”, e só viria a ser desativado a 1 de maio de 1974.

Durante os anos de funcionamento ao serviço do regime fascista português, só por uma vez foi autorizada uma visita de familiares ao Tarrafal – precisamente ao prisioneiro Guilherme da Costa Carvalho, graças à determinação da sua mãe, Herculana Carvalho, e à posição financeira e social da família portuense. Herculana viajou para Cabo Verde em 1949 com o marido, Luiz, e regressaram a Portugal com os únicos registos fotográficos conhecidos de prisioneiros no interior do Tarrafal.

O fotógrafo João Pina, 44 anos, cresceu a ouvir falar da “aventura” dos seus bisavós mas desconhecia os pormenores de uma história que, como viria a descobrir numa tarde de verão de 2019, não era apenas de grande importância para a sua família. (…)

(…) Num estojo antigo encontrou negativos, provas de contacto e fotografias tiradas em 1949 com a Rolleiflex do seu bisavô Luiz, na célebre viagem ao Tarrafal. “As primeiras fotografias que vi foram as da minha bisavó Herculana a depositar flores nas campas de todos os presos que morreram no Tarrafal… fiquei logo com as mãos a suar e comecei a chorar, de emoção.”

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